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Os Signos na Astrologia do hemisfério Sul - história de um problema não resolvido

  • Foto do escritor: Fabio Lorenzi
    Fabio Lorenzi
  • 4 de jun.
  • 7 min de leitura

Começamos em um post recente uma reflexão sobre a necessidade de pensar em algumas adaptações para a Astrologia no Hemisfério Sul.


As questões a serem debatidas são muitas, e vão de adaptações apenas ligadas à representação do mapa (como, por exemplo, a colocação do Ascendente no lado direito ou esquerdo da representação), a outras, mais profundas. Uma questão que merece destaque, ao meu ver, é relativa ao significado dos Signos zodiacais nos dois hemisférios.


Um Signo, na Astrologia trópica de derivação egípcia-grega-elenística, é um doze avo de Eclíptica, ou seja, o resultado da divisão em doze partes do caminho anual (aparente) do Sol. Esse caminho é dividido, a partir dos solstícios e equinócios (que marcam mudanças concretas no ciclo iluminativo do Sol) em 4 estações. Se trata, portanto de uma divisão de natureza astronômica:

  • Primavera: estação na qual temos sobreminência solar (dia mais longos que noites - Sol acima do Equador Celeste), e dias aumentando de duração (Sol subindo em direção ao solstício de verão)

  • Verão: estação de sobreminência solar mas de diminuição da duração dos dias (Sol descendo em direção ao solstício de inverno)

  • Outono: estação de predominância noturna (os dias duram menos que as noites) e diminuição da duração dos dias (Sol indo em direção ao solstício de inverno)

  • Inverno: estação de predominância noturna, mas, após o solstício invernal que marca o começo dessa estação, temos o recomeço do movimento do Sol em direção ao alto, e os dias aumentam de duração


Ptolomeu
Ptolomeu

Essa descrição pode ser encontrada em qualquer livro de ensino fundamental de geografia e astronomia, e já Ptolomeu (Tetrabliblos, livro I, cap. 10) a utilizava, acrescentando a ela significados simbólicos e astrológicos.



A partir disso chegamos no conceito crucial utilizado na Astrologia, o de signo, resultado da sub-divisão de cada estação em três partes iguais (Tetrabliblos, livro I, cap. 10-11):

  • O primeiro signo de cada estação é o signo Cardeal (ou Trópico, ou Solstícial-Equinocial)

  • O segundo signo é Fixo (ou Sólido)

  • O terceiro é Mutável (ou Bicorpóreo)


O signo é, portanto, um conceito originado de um fato puramente astronômico (a divisão em 12 partes iguais do caminho aparente do Sol).

O significado astrológico e interpretativo do Signo, em Ptolomeu, vem de uma interpretação simbólica que tem nas características sazonais sua origem primária.


Mesmo o zodíaco, enquanto círculo, não possui princípio natural

algum, o doze avo do zodíaco que começa no equinócio de

primavera, Áries, foi colocado como fundamento e princípio das

outras partes; foi assumido como causa inicial do zodíaco, como

criatura animada, pois da superabundância úmida da primavera

seguem-se as outros épocas do ano. Assim como a primeira idade

de todos os seres vivos, a primavera é abundante em essência

úmida, macia e tenra. A segunda idade, que alcança o máximo de

seu vigor, é abundante em calor como o verão. A terceira já perde

as flores e é o começo do declínio, é abundante em secura como o

outono. A última, por fim, próxima à dissolução, é abundante em

frio, como inverno.


Ptolomeu - Tetrabiblos (Livro I - cap 10)


É a partir disso que Ptolomeu descreve toda característica simbólica do signo: a divisão em masculinos e femininos, os domicilios, as elevações, os exílios, as quedas, os trigonos, etc. (Tetrabiblos, capp. 12-22). Algo parecido é feito por outros astrólogos, como por exemplo: Vettio Valente (Vettii Valentis Antiocheni Anthologiarum libri novem), Retório (Rhetorii quaestiones astrologicae ex Antiochi thesauris excerptae), Paolo de Alessandria (Elementa apotelesmatica), Abu Mashar (The Great Introduction to Astrology)e muitos outros.


Se o significado simbólico-astrológico dos signos descende de qualidades que são dadas pela estação, o que acontece no hemisfério sul, onde as estações são invertidas em relação ao hemisfério norte?


Se Áries é definido como primeiro signo primaveril, e seu significado simbólico deriva da interpretação simbólica da Primavera, no hemisfério sul ele continua sendo o signo do equinócio primaveril, deslocando-se para setembro, ou passa a ser o signo do equinócio de março? Os signos são puramente celestes e universais ou se dão pela interação céu-terra?

Esse problema não encontra resposta em Ptolomeu, nem nos autores clássicos.

Como responder a essa questão, que é de extrema importância, pois o conceito de Signo e sua definição é crucial para toda Astrologia trópica?


O problema começa a ser mencionado, como citado pelo pesquisador português Luís Ribeiro, e pelo astrólogo italiano Joe Fallisi, a partir do século XVI.


Uma primeira resposta, do astrólogo italiano Girolamo Cardano (Commentariorum in Ptolemaeum de Astrorum iudiciis Libri IV), consiste em manter o nome dos signos unificado nos dois hemisférios, mantendo assim a ligação com o calendário, mas mudando os domicílios: assim no hemisfério sul o domicílio do Sol seria Aquário, o da Lua Capricórnio, e assim por diante.


Mais radical é a inversão operada por Tommaso Campanella (Astrologicorum, Libri VII), que inverte todas as dignidades e debilidades.


No geral, essa inversão não é aceita por outros astrólogos, que criticam Campanella de forma dura (é o caso de Jean-Baptiste Morin de Villefranche, astrólogo do século XVI, em Astrologia gallica principiis et rationibus propriis stabilita), ou de forma mais amena, mas chegando à conclusão de que não se deve inverter os signos no hemisfério sul (Juan de Figueiroa, sec. XVII, citado por Luís Ribeiro no vídeo acima). No geral os argumentos contra a inversão são empíricos: a inversão não funciona na prática, mas não são apresentados argumentos teóricos para fundamentar a não inversão (veja sempre a exposição de Luís Ribeiro).


O debate, por esses autores, se resume então a duas posições, que mantém uma visão comum que podemos chamar de Universalista: a partir do equinócio de março o Sol se encontra em Áries, sem diferença nos dois hemisférios. O que muda nas duas é que:

  • Para uma posição (a de Campanella) temos que inverter dignidades e debilidades. Não me é claro, ao momento da escritura desse artigo, se as outras características do signo (como o elemento e as outras características simbólicas-interpretativas) se mantém intactas. Podemos chamar essa posição de universalismo moderado.

  • Para a segunda posição não se inverte nada. A astrologia seria radicalmente universalista, sem diferença nos dois hemisférios, a não ser a aplicação da qualidade sazonal às características dos signos (signos que, por si, são independentes das estações).


A questão persiste nos dias de hoje, mas é bem pouco debatida, na maioria das vezes nem sequer é citada.


A posição seguida pela maioria dos astrólogos é a do universalismo radical.

Podemos citar, por exemplo, a visão da astróloga brasileira Claudia Lisboa, segundo a qual o da astrologia é um sistema simbólico, que surgiu criando uma correspondência entre os movimentos celestes e os acontecimentos terrestres, mas que na realidade se põe como sistema puramente simbólico: a astrologia é universal.


Os astrólogos Maurice Fernandez, Gemini Brett e Julija Simas, em uma live, debatem amplamente o tema, analisando muitas questões (inclusive a da representação gráfica do Ascendente), e chegam à mesma posição universalista: não se invertem os signos nos dois hemisférios. No debate, eles ressaltam todavia a importância de aplicar a qualidade do elemento sazonal ao signo: Áries, no hemisfério Sul, continua sendo signo de fogo, domicílio de Marte, etc, mas é um signo de outono (então com uma ligação simbólica com o elemento terra).


A posição do universalismo moderado em um primeiro momento parece representada pelo astrólogo brasileiro Panisha, em seu livro A nova astrologia ao alcance de todos (1993). Mas, ao aprofundar, Panisha vai além de Campanella e afirma a necessidade de inverter todo o significado dos signos entre os dois hemisférios. O que Áries é no hemisfério norte (signo de fogo, regido por Marte e Sol, etc.) no hemisfério sul está ligado ao signo de Libra. A posição de Panisha então rompe com o universalismo: dessa posição mantém o nome dos signos, mas muda (inverte, na realidade) a semântica. Ou seja: a partir do equinócio de março, o Sol entra no signo de Áries. Esse signo tem no hemisfério norte as características que comumente são atribuidas a ele (fogo, regido por Marte, elevação de Sol, ligado ao dinamismo primaveril, etc.), mas no hemisfério sul Áries tem as características que no norte são atribuidas a Libra (ar, regido por Vênus, elevação de Saturno, ligado aos processos de interiorização do outono, etc.). A posição de Panisha, então, é de inverter o significado mas de manter o nome.


Alguns astrólogos levaram mais adiante a inversão dos signos do universalismo moderado e da inversão semântica de Panisha, afirmando a necessidade de inverter completamente os signos, até no nome. Cai completamente, nesse caso, o universalismo, e podemos nos referir a essa posição como inversão completa ou inversão total. É o caso de Giuseppe Bezza, Joe Fallisi e outros astrólogos italianos, especialmente os ligados à Associazione Cielo e Terra. Em um artigo (auto do II Congresso Internazionale di Astrologia do CIDA - Veneza, nov. 1997) o astrólogo italiano Joe Fallisi afirma a necessidade de inverter completamente os signos quando se fazem análises do hemisfério austral, dando como exemplo o mapa astral de Maradona. Bezza menciona a questão em seu Commento al primo libro del Tetrabiblos (1992), afirmando a mesma necessidade de realizar inversão. Segundo eles o significado de Áries seria exatamente o mencionado por Ptolomeu: signo trópico da Primavera, e é essa a base que fundamenta todo o significado astrológico do signo. Se tirarmos de Áries sua fundamentação sazonal, não sobraria um universal em si: o signo é sim um fenômeno celeste, mas, para sua essência e nosso entendimento, é necessário pensar a interação entre céu e terra, o signo é algo que se dá justamente nessa interação.


Um experimento mental que podemos fazer é: se excluirmos o que sabemos sobre os signos, e quisessemos repercorrer o caminho que dá significado aos signos, não partiríamos novamente das estações? E, ao fazer isso no hemisfério sul, poderíamos olhar para as estações que nós vivemos, ou deveríamos colocar entre parenteses nossa vivência e nos referir apenas ao hemisfério norte?

Com certeza todo mundo que estuda astrologia no hemisfério Sul encontrou alguma dificuldade em entender porquê o rigor de Saturno estaria associado à exuberância do verão (nos signos de Capricórnio e Aquário, entre janeiro e fevereiro), e porquê o Sol se domiciliaria, no Brasil, no meio do inverno...


O que parece, então é que a questão não tem solução única, e se evidenciam diferentes posições, cada uma com sua fundamentação (seja ela teórica, simbólica, empírica). Ao meu ver isso demonstra principalmente uma coisa: a necessidade de conhecer e debater a questão, para que quem sustenta uma posição tenha plena consciência de seu fundamento.


Em outros artigos vamos aprofundar ainda a questão, oferecendo mais argumentos a favor da teoria de inversão, que a que eu, pessoalmente, sustento.







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